No final de semana passado participei como mentora do Startupweekend Londrina Agrotech. Um evento que tinha o foco na promoção do empreendedorismo com projetos para o agronegócio. Fui convidada para ser mentora e acompanhei com outros sete colegas as equipes durante o final de semana.

Ao todo, 82 empreendedores e 12 projetos. As equipes aprenderam muito diante o processo, mas como mentora, também aprendi bastante e gostaria muito de compartilhar a minha experiência.

Perguntas e respostas sobre startups

Somos instigados pela equipe organizadora do Startupweekend a atuar como mentores para estimular os empreendedores. Não para trazer uma solução pronta. Assim, nosso objetivo é perguntar. Quando fazemos uma pergunta, de certa forma, já temos na nossa cabeça a solução, mas o objetivo é fazer com que a pessoa responda sobre os questionamentos para pensar a sua solução.

Também fazemos perguntas para confirmarmos decisões. Tem certeza mesmo que é isso? Sabemos que sim, mas queremos entender se o empreendedor tem confiança na decisão tomada. Só que muitas vezes os empreendedores não entendem os questionamentos como auxílio e ficam o tempo todo na defensiva tentando nos convencer de coisas que desconhecem.

Meu primeiro aprendizado foi: Times precisam estar abertos à ajuda. Mentores querem ajudar, sempre! Se um mentor não quiser ajudar um time, ele vai ficar em casa e não perder o tempo dele. Mas, para ser ajudado, é preciso aceitar a ajuda.

Então, ao fim do evento, você acaba se envolvendo mais com os times que aceitam sua ajuda. Ou aqueles que vêem em você um parceiro.

Respeito à pessoa

Fui fazer uma avaliação de um pré-pitch, como parte do Startupweekend, e peguei pesado com uma participante. Estava muito ruim a apresentação. Como atuo com investidores, a linha pesada é uma característica. Nem prestei atenção no meu tom e na forma com que falei. Apenas, falei que estava muito ruim.

A participante brigou comigo e todos acharam que a vivência foi importante. Mas, eu me senti mal. Não acho que são somente as porradas que levam a pessoa a aprender. Cometi um equívoco de achar que todos os participantes iam ter a maturidade de lidar com uma condição mais pesada. Apesar de saber que a vida é assim, mais pesada, acho que ignorei a maturidade.

Meu segundo aprendizado foi: É preciso levar em conta a maturidade das pessoas para dar um feedback a uma startup.

Podemos e devemos ser sinceros, mas tudo tem um tom. Esse tom é o limite entre a pessoa jogar tudo para o alto e sair correndo, ou quando terminar, te chamar para ajudar a melhorar o que estava errado. No fim, era isso que eu gostaria que tivesse acontecido. Não que ela brigasse comigo, mas que ela me chamasse para ajudá-la a melhorar. Não foi o aconteceu. Mas, se por isso ou não, e com a interferência de outros mentores a equipe se superou e surpreendeu.

Sobre o pensar diferente

Tinha uma equipe no Startupweekend em especial que queria fazer um hardware. Apesar de, por conceito, hardware ter problemas de escala, e que por isso não podem ser startups, entendo que empresas de hardware se bem formatadas podem dar um passo enorme no mundo da inovação, vide a Apple.

Muito bem, o grupo sofreu com alguns mentores que insistiram que o projeto não era de startup. Mas, como era um grupo que toda a vez que eu passava não me dava muita abertura, acabei não indo lá. Só consegui falar com eles no domingo e achei o projeto ótimo.

Como assim? (me perguntaram). Eu disse que por conceito empresa de hardware não é startup, mas podemos ter sim algo de grande sucesso com hardware, se padronizarmos a produção e dermos capilaridade às formas de vendas. Eles ficaram felizes e no segundo tempo decidiram levar adiante e tocarem a proposta.

Meu terceiro aprendizado foi: Ninguém tem a certeza se um negócio vai dar certo ou errado, e as pessoas têm visão diferentes sobre um mesmo negócio.

Que ótimo, né? Se todo empreendedor e consultor pensasse igual… nem sei como seria. Mas, os times realmente ficam confusos com as opiniões divergentes e taí um super aprendizado. É preciso ouvir, compreender e tomar a sua decisão. Não é porque alguém disse que não ia dar certo, ou porque alguém disse que ia dar certo, que tudo dará errado ou certo. Não existe a fórmula mágica.

Linguagem importa

Em uma das etapas do Startupweekend, pediram a um dos mentores para fazer no domingo uma apresentação de pitch. Eu me propus. Tinha trabalhado no sábado das 9hs às 19hs, cheguei em casa bem cansada, dei uma atenção pequena para as crianças e fui dormir. Acordei no meio da madrugada pensando num meme para colocar na apresentação. Voltei a dormir, mas sabia que tinha que acordar cedo para montar o material.

7h30 estava sentada no computador pensando na linguagem que eu iria usar para dizer o que era pitch. Tenho certeza que bons projetos morrem no pitch. Então, no auge da minha criatividade resolvi misturar o Harry Potter com o pitch.

No meio da apresentação, o facilitador disse que era para eu perguntar se todos conheciam o Harry Potter. Apenas 1, de 82 participantes disse não. Eu disse a ele que eu explicaria depois em particular e continuei. No fim da apresentação, a Lady Gaga.

Meu quarto aprendizado foi: Precisamos atuar com a linguagem do nosso público, se quisermos que bons negócios apareçam

Não dava tempo de ensinar todas as técnicas e modelos de pitch, era preciso ser sucinto. Em todos os casos, as equipes conseguiram apresentar os problemas e as soluções. E acontece muito de a gente sair de uma banca sem saber o que era a solução. Eu fiquei bem feliz.

Mulheres fazem a diferença

Quando entrei na sala das equipes fiquei mega empolga de ver muitas mulheres nos grupos. Em todos os grupos tinham mulheres. Eu realmente fiquei muito feliz. A diversidade é um dos fatores primordiais em negócios e ver homens e mulheres trabalhando juntos, foi maravilhoso.

Nosso grupo de mentores também era diverso e vemos poucas mulheres como mentoras no dia a dia das startups. Esse é um grande desafio que ainda precisamos vencer, mas um passo de cada vez.

A escola do Startupweekend é rápida e certeira, não só as equipes que entram de uma forma e saem de outra. Os mentores também e agradeço imensamente a Amanda que me deu essa oportunidade.