Existe um longo caminho entre uma solução virar inovação. Ou seja, ela começar a fazer parte da realidade do mercado . Além disso,  o caminho entre a criação e a disseminação é longo. No agro, talvez seja maior ainda. 

O sucesso de soluções inovadoras no campo envolve a apropriabilidade técnica. É sobre isso que quero falar aqui. 

No entanto, antes de entrar na questão do setor agro, vamos entender alguns termos. 

Sabe quando uma solução  existe, mas ninguém usa ela ainda? Seja pelo alto custo. Ou porque poucas pessoas testaram. Essa solução ainda não passou pelo que chamamos de apropriabilidade.

Ou seja, ela ainda não foi apropriada. Ainda não é utilizada. Existe, mas ninguém usa, sabe? 

Então, seguindo o mesmo raciocínio.Quando uma empresa pega uma solução e insere no seu processo produtivo, chamamos de apropriabilidade. técnica das inovações. Acho que deu para entender a ideia, certo? 

Outro termo importante nesse contexto: early adopters. Em tradução livre “primeiros adotantes”. Quer dizer, são as primeiras pessoas (ou empresas) a adotar uma solução inovadora. Aquelas mais dispostas a arriscar. 

Agora que estamos alinhados nos termos, vamos ao foco deste artigo. 

Apropriabilidade no agro

Há algumas semanas estive em uma propriedade rural. Conversando com o produtor, percebi que ele estava em busca de uma solução que já existia. E não estou falando sobre uma inovação radical. Do tipo que não é fácil acesso. Mas de uma solução que em um clique, você encontra vários fornecedores. 

Esse distanciamento entre o público e a solução, passa pelo processo de apropriabilidade. Muitas soluções para o agronegócio ainda não foram disseminadas. Mesmo as mais simples. E entendo que isso passa pelas seguintes causas:

Acesso ao produtor

O primeiro desafio de qualquer startup que atua no agro, é acessar o produtor. Onde encontrar esses clientes. As feiras e eventos para produtores, exigem um investimento alto para participação. Como uma startup que está começando, consegue esse espaço? 

Cultura e confiança

Outro ponto fundamental é a resistência cultural. Muitos produtores (ainda) são resistentes a mudar a forma como conduzem sua propriedade. Isso porque ao longo da safra, eles já precisam lidar com questões que estão fora do seu controle, como o clima, por exemplo. Então adicionar a esse cenário mais um risco, nem sempre parece uma boa ideia. 

Estrutura e recursos 

E claro, não podemos esquecer da estrutura e recursos para se colocar uma solução em prática. Acessar a internet pode ser corriqueiro para quem mora em centros urbanos. Mas nossa área rural ainda enfrenta o desafio da conectividade, por exemplo. 

Como mudar esse cenário?

Há um trabalho que pode ser feito com os produtores. Envolve conhecimento. Quanto mais eles conhecerem as possibilidades, menos receio do novo terão. É fato que as opções são inúmeras e escolher só uma é complexo. 

Por isso, uma empresa,  cooperativa ou  hub de inovação podem ajudar. Primeiro, porque esses ambientes já fazem a triagem. Segundo, porque eles entendem a importância dos testes antes de levar ao produtor. 

Early adopters no Agro

Para que uma solução inovadora chegue de fato ao mercado agro, é fundamental procurar os produtores early adopters. Será ele que fará os primeiros testes e vai verificar de fato se aquela solução, é uma inovação. 

O novo e o muito novo

Entendendo o ponto da apropriabilidade e dos early adopters, tenho a clareza que no agro devemos trabalhar com a solução nova e a muito nova. A gente que opera processos de inovação sempre busca a solução novíssima, mais tecnológica. 

Mas, às vezes, o produtor só precisa do novo para ele. Do software de gestão mesmo. Entender essa dinâmica é fundamental para se criar os programas de inovação. Porque é preciso trabalhar com esses públicos. Suas necessidades e desejos. 

E entender, de fato, que a apropiabilidade técnica é que vai determinar se devemos trabalhar com a tecnologia nova, ou a novíssima.