A Lei de Inovação é um marco legal que, entre outras coisas, regularizou a interação universidade-empresa. Isso foi importante para quebrar a ideia de que o que é desenvolvido nas Instituições de Ciência e Tecnologia (ICTs) deve ser mantido na academia. Ou que a ICT pública deve atender gratuitamente empresas.
A relação entre ICT e empresa é extremamente valiosa do ponto de vista da inovação. Isso porque conecta dois atores que têm expertises diferentes. A ICT traz o conhecimento técnico e possibilita o acesso a uma estrutura avançada, como laboratórios. E a empresa traz as necessidades de mercado e injeta recursos.
O resultado? Novas soluções no mercado, avanço das pesquisas, geração de propriedade intelectual, recursos para a ICT e resultado para a empresa. Tudo parece mil maravilhas, certo? Quase. Apesar de já ter uma lei que permite e todos os benefícios claros, a realidade é que na maioria das vezes, empresas e ICTs não sabem se comunicar.
Universidade-empresa falando a mesma língua…
Se o foco do pesquisador é seu objeto de pesquisa. E o foco da empresa é sua solução. Uma parceria universidade-empresa só dá certo se objeto e solução estiverem alinhados. Concorda? E é exatamente aí que está o obstáculo.
Começando pelas ICTs, eu digo por experiência que acadêmico não sabe conversar com empresa. Primeiro, a linguagem técnica muitas vezes atrapalha. A empresa entende a linguagem do mercado. E o pesquisador precisa conseguir traduzir aquilo que ele faz, nessa linguagem. De certa forma, ele precisa saber “vender” o que ele tem a oferecer.
Além disso, é importante lembrar que ICTs que querem fazer parcerias precisam de uma política de inovação. E por meio dessa política ela vai definir como podem ser as parcerias. Quais estruturas serão ofertadas. De que forma, com que tipo de contrapartida.
Alinhando expectativas
Do mesmo modo, se o pesquisador precisa aprender a ofertar. Por outro lado, a empresa precisa aprender a pedir. Portanto, chegar em uma ICT e só dizer que quer inovar. Ou ainda, pedir que ela desenvolva uma solução inovadora que não tenha similaridade com as linhas de pesquisa dela, não tem o menor sentido.
Depois, a empresa precisa entender as características que envolvem uma pesquisa. Principalmente quanto ao tempo de desenvolvimento. A ICT não será o P&D interno da empresa. Assim, tudo leva mais tempo. Afinal, uma pesquisa não acontece do dia para a noite.
Ainda, a pesquisa não vai ser conduzida da forma como a empresa mandar. Ela é conduzida pelo pesquisador, dentro do que for acordado com a empresa, mas seguindo as regras e diretrizes da ICT. Por isso, alinhar expectativas e ter um plano de trabalho é tão importante.
A empresa, antes de mais nada, precisa saber o que ela está buscando. Depois, o segundo passo é prospectar parceiros. Ou seja, identificar ICTs que atuem na área que ela precisa. Para então fazer contato. E mais uma vez, desde as primeiras conversas, deixar bem claro qual é a expectativa da parceria. E ouvir da ICT se ela pode e quer atender.
Tudo dentro da lei!
A princípio, comunicação feita e expectativas alinhadas, é hora de formalizar. Ou seja, é imprescindível que toda parceria universidade-empresa seja formalizada. Isso é feito por meio de um contrato de cooperação tecnológica. E quem cuida desse processo na ICT é a Agência de Inovação.
Portanto, o pesquisador não pode prestar qualquer serviço à empresa dentro da ICT sem esse termo. E não existe isso de “o laboratório é meu”. Assim como a empresa não pode usar a estrutura da ICT sem as devidas formalizações legais. A parceria entre ICT e empresa é uma relação de ganha-ganha. E isso precisa estar claro para ambas as partes!