A concorrência entre empresas é um elemento que compõe a dinâmica do mercado. Ou seja, é algo que faz parte dos negócios e cada empresa deve ter sua estratégia para lidar com isso. No entanto, existe um limite ético nessa competição. Ou pelo menos deveria existir. Quando esse limite é ignorado, nos deparamos com a concorrência desleal.
Essa prática aparece quando a empresa usa de meios abusivos, práticas ilegais e fraudulentas para angariar clientes. E para quem acha que concorrência desleal é algo delimitado apenas pela moral, não é. A Lei de Propriedade industrial em seu artigo 195, tipifica 19 práticas que são consideradas desleais, inclusive, prevendo como crime.
Portanto, o que eu vou tratar no artigo de hoje, sobre essa temática, são as práticas que incidem sobre as startups. Um tipo de concorrência desleal que pode matar o negócio. E que gera uma grande insegurança nas startups na hora de trabalhar com grandes empresas.
Existe roubo de ideias?
Antes de tudo, há uma linha muito tênue entre a concorrência desleal prevista na lei e a concorrência que vou chamar de roubo da ideia. Ao meu ver, ambas são desleais.
Primeiro, o que eu vou falar aqui sobre roubo de ideia, não trata da ideia que ainda está na cabeça. Ideia é algo que não pode ser protegido. E é algo que não tem dono, até certo ponto. Se você tem uma ideia, mas nada além disso, você não tem nada.
Por exemplo, eu posso ter a ideia de inventar uma calça jeans que nunca suja. Mas se eu não tenho nenhum trabalho desenvolvido em cima, eu não tenho nada. Talvez eu, apesar da ideia, nunca consiga torná-la real.
Dito isso, há casos de startups que tiveram suas ideias roubadas por empresas e até instituições do Estado. Eu não vou expor esses casos, por uma questão ética, mas nos anos em que trabalho com inovação, já acompanhei alguns.
Na prática, o que acontece é que a startup apresenta sua ideia para o possível parceiro e este, ao invés de trabalhar em conjunto, faz o desenvolvimento sozinho. Depois de compreender a proposta da startup. E até entender como ela propõe aquela solução. Esses potenciais parceiros pegam para si aquela ideia. E mesmo que ela seja realizada com alguma diferença, continua sendo, ao meu ver, uma concorrência bem desleal.
Por vezes, essas empresas terão mais recursos para desenvolver do que a startup.O que facilita para elas. E prejudica ainda mais a startup.
Concorrência desleal na prática da inovação aberta
Se uma empresa ou instituição lida com a inovação aberta para buscar soluções, ela precisa ser ética nesse processo. Se ela busca apenas por ideias para desenvolver internamente, deve lançar um programa de ideias. Na inovação aberta ela está se propondo a ter uma relação com outro ator para resolver uma questão. Se a solução chega por uma startup, mesmo que inicial, você não pode copiá-la e desenvolver internamente. Isso é ser desleal.
Inclusive, existem diferentes tipos de relação que podem ser estabelecidas. De forma que ambas as partes se beneficiem do processo. São elas:
- Ser cliente da startups;
- Se tornar sócio da startup e possuir parte da solução;
- Comprar a startup ou a solução;
Copiar a solução é antiético. Imagina uma empresa ficar conhecida no mercado por copiar startups. Feio, né?
“Eu não sabia”
O grande ponto desse debate é a ética dos negócios. E há aqueles que não a tem. Então, nesse caso, resta pouco a se fazer. Mas, há ainda o grupo dos desavisados. Ou aqueles inocentes (se é que realmente são).
“Nossa, não sabia que não podia copiar”
“Não fizemos por mal. Usamos a solução da startup como inspiração para a nossa”
Não, você não pode ouvir a startup, pegar seu time de inovação ou de desenvolvimento e fazer igual. Há um processo antiético aí.
E o que pode fazer?
Você pode ouvir a startup e crescer junto com ela. Entenda que a startup pode ser uma fonte de inovação para o seu negócio. Por isso, quanto mais parceria melhor.
Para a startup: se proteja!
Algumas formas de se proteger da concorrência desleal:
- Não apresente dados estratégicos em uma reunião inicial. Por exemplo, não exponha questões técnicas da solução. Aprenda a se apresentar, se resguardando.
- Se for realizar uma apresentação técnica e que expõe dados estratégicos, use dos NDAs e contratos de sigilo. Isso traz profissionalismo para a relação.
- Formalize tudo o que for possível. Testes, a parceria, etc.
- Faça a proteção! Registro de software ou patente é importante. Não acredite em quem diz que não é.
Não podemos garantir que as pessoas roubem soluções tecnológicas, mas podemos trabalhar para nos proteger.
A inovação aberta é um processo de construção conjunto. A concorrência desleal pode romper esse processo, o que é desvantajoso para os dois lados. Saber respeitar o limite é essencial.