Por que ainda não é comum que o pesquisador se torne empreendedor? Mas, quero te dizer que ser empreendedor pode ser uma opção de carreira sim.
Atualmente, temos muitos pesquisadores com patentes e poucos pesquisadores abrindo startups ou empresas. Pode parecer que essa pergunta não faz sentido de primeira, mas vou te explicar.
Antes de tudo, vamos recordar que uma patente é uma aplicação industrial. Ela é uma concessão do Estado de uso exclusivo de uma tecnologia para exploração comercial. Assim, espera-se que o depositante coloque essa solução no mercado.
Dito isso, recentemente o Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI) divulgou um relatório. Nele estão listados os 50 maiores depositantes de patentes residentes no Brasil. E a grande maioria dessa lista são universidades. Portanto, pesquisadores.
Por que temos pesquisadores patenteando soluções e com exclusividade de exploração comercial? Mas não temos, pesquisadores com startups ou empresas para realizar essa exploração?
Inclusive, o INPI também divulgou uma lista com os depositantes não residentes no Brasil. E ela é composta 100% por empresas. Ou seja, o que nós não fazemos aqui, está sendo amplamente praticado no exterior.
E o que causa esse cenário?
Os pesquisadores passaram a ser pontuados pelo número de patentes. Por isso, quanto mais patentes, maior a pontuação no seu currículo acadêmico. Ou seja, temos muitas patentes sendo depositadas com essa finalidade.
Há também a ideia de que o depósito serve apenas como uma proteção da pesquisa. Para indicar que aquele resultado é de determinado pesquisador. E assim garantir que outro não use o que foi feito.
O que acaba sendo uma ideia equivocada visto que toda patente prevê o avanço do estado da técnica.
O problema nessa questão é que o objetivo da patente não é ficar em gaveta de universidade. É gerar uma aplicação industrial.
Então, temos nessa lista uma reflexão importante que precisamos fazer. Quantas dessas patentes estão gerando os resultados que deveriam gerar? Ou ainda, quantas estão se tornando empresas ou indo para empresas?
De pesquisador à empreendedor
Nem toda pesquisa pode virar um negócio. Algumas têm potencial de mercado, outras não. Assim, a primeira coisa a se fazer avaliar é isso.
Em segundo, nem toda patente é inovação. Se há patente, há invenção. Mas existe uma diferença entre invenção e inovação.
No entanto, a patente que tem potencial inovador, pode virar um negócio. Inclusive, tenho visto com frequência programas estimulando a criação de startups a partir de grupos de pesquisa. Ou seja, oferecendo recursos financeiros. Alguns exemplos:
- Centelha – programa da Finep;
- Sinapse – programa da Finep e Fundação Araucária;
- Programa Catalisa do Sebrae
- Programa Pesquisa Inovativa em Pequenas Empresas (PIPE) da Fapesp
Como começar?
Para começar é importante que o pesquisador entenda os trâmites legais. A Lei de Inovação permite que você atue em empresas. Mas tem algumas regras para os pesquisadores de instituições públicas em dedicação exclusiva. Por exemplo, você não pode ser sócio-administrador do negócio.
Depois de entender esse contexto, você precisa legalizar o uso da solução pela startup. Fazer a transferência de tecnologia da instituição de pesquisa para sua empresa.
O que você desenvolve como membro da universidade não é seu. É da universidade. Você tem participação.
Dessa forma, você não pode explorar comercialmente sem a transferência de tecnologia, ok? Para fazer isso, deve procurar a Agência de Inovação da instituição.
Por fim, sempre me questionam se todos os envolvidos na pesquisa precisam estar na empresa. A resposta é não! Equipe de startup e equipe de pesquisa são totalmente diferentes. Participa quem quer, quem pode, uma coisa não obriga a outra.
Acima de tudo, é fundamental entender que na universidade, o pesquisador tem suas funções e direitos específicos. E se você resolver ser empreendedor, são outras responsabilidades e direitos.
Portanto, não confunda os papéis. Inclusive para desenvolver a startup dentro da lei. Afinal, é negócio não é pesquisa, certo?