Se tem uma coisa que aprendi da palavra parceria, é que esta é sempre uma relação de ganha-ganha. Se não for, não temos uma parceria de fato. Isso também vale para a interação universidade-empresa.

Atuei por quase 8 anos acompanhando políticas públicas de CT&I e o assunto parceria universidade-empresa é sempre um item que era mencionado.

Após, tive a oportunidade de atuar mais 4 anos na universidade na linha de frente para a busca e fechamento de parcerias. Agora, estou do lado das empresas montando os processos de gestão da inovação e avaliando projetos de universidades para parceria. O que eu aprendi? Que nos dois casos, a relação precisa ser ganha-ganha.

Parceria em que a empresa procura a universidade

A palavra parceria é sempre uma relação de ganha-ganha. Isso também vale para a interação universidade-empresa.

Em muitos casos, as empresas procuram a universidade para fechar parcerias. Geralmente, algumas modalidades são definidas, tais como:

  • Cooperação tecnológica – em que a parceria é feita para o desenvolvimento conjunto de um produto ou solução;
  • Prestação de serviço – em que a empresa contrata a universidade para determinado serviço técnico;
  • Licenciamento de propriedade intelectual – em que a empresa tem interesse em uma propriedade intelectual da universidade.

Na modalidade licenciamento, o relacionamento se dá por meio de royalties, ou seja, a universidade licencia para a empresa sua propriedade intelectual para que a empresa coloque a solução no mercado. Quando o produto ou a solução é vendida, a empresa paga um percentual sobre o faturamento para a universidade.

Na perspectiva da prestação de serviços, a universidade coloca um valor ao serviço técnico e a empresa também paga por ele. Já na modalidade cooperação, ambos atuam em conjunto para o desenvolvimento e, neste caso, o resultado será compartilhado.

Assim, é muito ruim quando uma empresa procura uma universidade para uma parceria querendo as coisas de graça, só com o objetivo de obter o conhecimento e não compartilhar nada. Perde-se aí um fator importante do ganha-ganha. Se só um lado tirar vantagem, o resultado nunca será conforme o esperado.

Quando a universidade procura a empresa

Muitos pesquisadores também procuram as empresas para realizarem suas pesquisas. Geralmente, em busca de insumos, visto que a maior parte das universidades não têm orçamentos para tal finalidade.

Assim, o pesquisador pede o insumo, a empresa cede, a pesquisa é feita, o pesquisador publica ou faz uma patente e a empresa? Nada… nem fica sabendo do resultado.

Uma empresa tem a obrigação de ajudar um pesquisador cedendo insumos para uma pesquisa que não tem nada a ver com o seu planejamento estratégico? Não, não possui. Se a relação for só de ganho do pesquisador, não é uma parceria da mesma forma.

Como fazer a interação universidade-empresa?

Para mim o ponto chave é: os dois lados entenderem que precisam ser parceiros. Os dois lados precisam ganhar. Seja a empresa que terá uma solução adequada ao seu planejamento estratégico ou a novos negócios, seja o pesquisador que terá insumos ou recursos para desenvolver tal atividade.

A propriedade intelectual deve ser compartilhada nos casos de cooperação, respeitando os percentuais de contribuição de cada uma das partes. E para isso, a Lei de Inovação já garante que a modalidade de licenciamento poderá ser exclusiva.

Existem muitos entraves para que a relação universidade-empresa seja uma rotina nas universidades e nas empresas, mas o primeiro passo pode ser dado ao responder duas perguntas.

  • Do lado da empresa – que tipo de benefício posso levar ao pesquisador? Econômico ou financeiro?
  • Do lado do pesquisador – que tipo de pesquisa poderia ser feita que atendesse ao planejamento da empresa?

Importante destacar que não defendo de forma alguma que todas as pesquisas sejam aplicadas, as pesquisas básicas são fundamentais. Mas, se um lado procura o outro, porque não se mostrar disponível à parceria?

Tatiana Fiuza