Essa semana li na agência de notícias de uma Universidade super bem ranqueada que um aluno de pós-graduação criou um produto inovador. O título da notícia dizia que era inovador.
Universidades não criam produtos ou serviços inovadores, elas criam produtos ou serviços com potencial de inovação. Só de fato será inovador, se chegar ao mercado e trouxer resultados. Precisamos aprender e disseminar o conceito da forma correta.
Sim, só quem faz inovação é o setor produtivo. Isso não sou só eu quem digo, tem toda uma gama de teóricos que tratam do assunto, tais como Joseph Schumpeter, Luc Soete, Chris Freeman, Giovanni Dosi, Nathan Rosemberg entre outros. Ou seja, os clássicos da inovação mostram que de fato só é inovador aquilo que é inserido no setor produtivo e com resultados.
Que tipo de resultados? Uma inovação pode ampliar mercados, reduzir tempo, aumentar produtividade, melhorar a eficiência etc. É aquilo que está relacionado com o benefício para a empresa e, claro, aquilo que traz um benefício financeiro à empresa.
Inovação também é diferente de novo
Nem tudo que é novo é inovador, e nem tudo que é inovador é novo. Usamos a palavra inovação para sinônimos de coisas novas ou diferentes, e para isso devemos ter cautela. Se considerarmos somente o novo e o único, estaremos abrindo mão de toda a forma de inovação em processos. Às vezes, o velho melhorado traz resultados surpreendentes. Sim, inovação de processo é inovação e isso quem diz é a OCDE, por meio do Manual de Oslo.
Nem tudo que gera patente é inovador. Pode ser, mas não significa que temos uma patente e da mesma forma teremos um produto inovador. Patentes, como a Lei da Propriedade Industrial define, são produtos ou processos com aplicação industrial e com atividade inventiva.
Ter um produto ou processo com aplicação industrial não significa que ele será inovador. Entrou no mercado, trouxe resultados, daí, teremos a inovação. Atividade inventivas são invenções, não inovações.
Quantas invenções foram colocadas no mercado e não deram em nada? As pessoas não aceitaram, o mercado não aceitou, ninguém usou, gostou, sei lá. Há muitas invenções sem resultado.
Mas e quanto ao produto da Universidade?
É uma excelente pesquisa. Uma invenção que pode resultar em patente concedida, que resolve um problema da indústria e que pode com seu potencial inovador fazer com que o seto produtivo tenha interesse. A Universidade vai, se quiser, transferir a tecnologia e acompanhar para que o produto seja ou não uma grande inovação para a empresa. Afinal, como disseram Chris Freeman e Luc Soete:
Todas as melhorias de maquinaria não foram de forma alguma invenções daqueles que tiveram a oportunidade de usar as máquinas
Ah, mas dizer que é inovador chama atenção. Ok, eu entendo o argumento, mas como agente de inovação tenho a obrigação de trabalhar pelo conceito correto dos termos. Se assim não cuidarmos, não podemos ficar reclamando de quem fala nois vai, nois foi.
Tatiana Fiuza